Médicos acusados de retirar rins de pacientes são interrogados
Os três médicos acusados já foram interrogados e sentença pode ser dada nesta quinta-feira, com o fim do julgamento
O julgamento dos três médicos acusados de ter levado à morte quatro pacientes para a retirada dos rins deve ser concluído quinta-feira (20). Nesta quarta-feira foram ouvidos no Fórum Central de Taubaté, interior de São Paulo, os réus Pedro Henrique Masjuan Torrecillas e Mariano Fiore Júnior. Torrecillas, acusado de ter matado o paciente José Carneiro com um golpe de bisturi, negou o fato e disse que a enfermeira Isabel Pereira, que o acusa, não teria participado da cirurgia.
Fiore Junior afirmou ter falado várias vezes à polícia sobre sumiço de documento do prontuário dos pacientes. "O delegado prevaricou?", disse o promotor. Fiori respondeu que essa era uma palavra "muito forte". Após ter prestado depoimento, na segunda, Kalume foi internado no Hospital Regional, em Taubaté, onde foi submetido a um cateterismo. Ele está internado, sem alterações no quadro clínico.
O terceiro acusado, o médico Rui Noronha Sacramento, foi interrogado na terça (18). Antônio Aurélio de Carvalho Monteiro, morto no ano passado, também era acusado dos mesmos crimes.
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O terceiro dia do julgamento foi marcado pelo embate entre o promotor Mário Friggi e a defesa dos médicos. Friggi argumentou que havia em Taubaté um centro captador de rins - e não um programa de transplantes -, usado por hospitais particulares e intermediado pelo médico Emil Sabagga, um dos pioneiros de transplantes renais na América Latina. O equivalente a cerca de R$ 35 mil teria sido pago por um paciente ao hospital por um transplante. O promotor criticou o sistema brasileiro, que levou dez anos para encerrar o inquérito policial, e ironizou o fato de os réus negarem os fatos. "Não aconteceu nada aqui em Taubaté. Está tudo certo", disse Friggi.
Ao se dirigir aos jurados, o promotor deu o tom do que deve ser a sua tese de acusação. Ele quis desqualificar a tentativa da defesa de apontar que a denúncia de Kalume tenha sido feita por ciúme e pela disputa de poder. "Será que tudo o que aconteceu aqui, toda a repercussão na mídia, foi apenas porque o dr. Kalume queria execrar publicamente essas pessoas?", indagou.
Amanhã, a partir das 9h, deverá ocorrer a réplica da acusação e a tréplica da defesa. Depois está previsto a votação dos jurados e, posteriormente, a leitura da sentença. Se condenados, os médicos poderão ficar presos de 6 a 20 anos.
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Os crimes foram cometidos entre setembro e dezembro de 1986. Segundo o Ministério Público Estadual, os médicos, acusados de tráfico de órgãos, simulavam que os pacientes tinham sido vítimas de lesões cerebrais para retirar os rins. De acordo com o Ministério Público, os pacientes morreram por causa da extração dos órgãos.
Como na época os réus foram absolvidos pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e pelo do Conselho Federal de Medicina (CFM), eles continuaram exercendo a profissão. Em denúncia apresentada à época, o Ministério Público alegou que os laudos médicos atestando as mortes de quatro pacientes eram falsos e simulavam morte encefálica para que fossem extraídos os órgãos destinados a transplantes.
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